
O Estádio Tiradentes, sede de majestosas vitórias do Grêmio Esportivo Renner, foi, a partir dos anos 50, o primeiro estádio do Brasil a possuir arquibancadas cobertas no setor popular. Tal conforto, naquela época restrito às arquibancadas do setor social, proporcionou que os torcedores tivessem ainda mais motivos para prestigiar o time. Assim, além dos jogos, a ida ao Tiradentes representava apreciar um espaço raro no País, sobretudo para um time amador formado por colegas de trabalho de uma grande indústria.
A organização de industriários para jogar futebol, no entanto, não era algo exatamente inovador e que se restringia às dependências da A. J. Renner & Cia. Quase 30 anos antes da fundação do Renner, em 1904, na cidade do Rio de Janeiro, nas dependências de uma fábrica têxtil (a Companhia Progresso Industrial do Brasil, também conhecida como Fábrica de Tecelagem Bangu), os funcionários da fábrica já haviam se organizado para fundar o Bangu Atlético Clube. Assim como o Renner, o time carioca iniciou seus trabalhos em um campo improvisado junto à Isede da fábrica. E as coincidências não param por aí. Lá, na ata de fundação do clube, muito antes do Renner ser fundado, foi decidido que as cores do clube seriam branco e encarnado (coloração avermelhada similar à cor de carne), cores que passariam também a compor o uniforme do glorioso time do 4º distrito de Porto Alegre. Além disso, como coincidência, está o fato de o Bangu ter inaugurado em 1947, na área da Fazenda da Viúva, o Estádio Proletário Guilherme da Silveira Fo (apelidado Moça Bonita), espaço em que também se confundiam os torcedores dos setores popular e social.
Tamanha preocupação com o setor popular do Estádio também se refletia no modo como A. J. Renner geria os funcionários que atuavam em suas empresas. Comandante do maior conglomerado de Indústrias do Rio Grande do Sul, e também do País, “o capitão das Indústrias” também se destacou por ser pioneiro na implantação de políticas assistenciais no ambiente fabril, o que lhe garantiu a lealdade e a simpatia de seus funcionários. Tais medidas estavam diretamente alinhadas com o Governo Vargas (1930-1945) e, em conjunto com as políticas nacionais, contribuíram para registrar um capítulo irreversível da história do Brasil.

