

Em 12 de março de 1959, cinco dias após a vitória contra o Guarany, em Cachoeira do Sul, a Fôlha Esportiva noticiou a tragédia: “Confirmado: Renner não mais praticará football profissional”. A manchete, absolutamente inesperada, abalou os jogadores, a torcida rennista e toda a comunidade que acompanhava a espetacular trajetória do time dos industriários. Era o fim do maior fenômeno sociocultural que a cidade de Porto Alegre já presenciou. A comoção era inevitável.
A manchete do jornal precedeu a reprodução da carta que A. J. Renner, Presidente Honorífico do clube, enviou à imprensa na noite do dia 11 de março. A carta anunciava assim:
“Em vista do noticiário da imprensa local sobre a exclusão do Grêmio Esportivo Renner do campeonato profissional da cidade, desejamos prestar alguns esclarecimentos ao público esportivo do Rio Grande.
É preciso que se diga que o recuo da Avenida Sertório em quatro metros, atingindo o atual estádio do clube, não é o único motivo desta decisão. Podemos adiantar que esta particularidade também é importante, porque representa uma diminuição sensível na capacidade do estádio, determinando arrecadação menores, e que vem agravar os fatores que nos levaram a tomar tal atitude e que muito nos entristece.
Destacamos, entre estes fatores, o desvirtuamento das finalidades do Grêmio Esportivo Renner, mesmo com o nosso beneplácito, nestes últimos quinze anos. Nascido do ideal de um grupo numeroso de funcionários da empresa, não titubeamos em dar amplo apoio à iniciativa, pois dotaria a coletividade de uma agremiação capaz de permitir a prática dos esportes amadoristas, objetivo maior de sua fundação. Mais tarde, como decorrência do próprio sucesso no campo esportivo – setor amadorista – ingressou o clube no football profissional, conquistando em tal categoria memoráveis e espetaculares lauréis, entre eles o próprio campeonato metropolitano de football.
Acontece, também, que a empresa vinha arcando, anualmente, com o “déficit” do clube, o qual se agravava de ano para ano como decorrência das constantes exigências do football profissional e que, no último ano, atingiu somas muitíssimo elevadas e que não mais se enquadravam nos fins a que estavam sendo canalizadas. Tais subsídios, em nosso entender, constituíam um privilégio que os demais clubes não possuíam, o que não nos parece justo.
Dessas quantias apenas uma importância irrisória era aplicada nos esportes amadoristas, verdadeiro motivo que se desejava alcançar quando da fundação do clube.
Não temos nenhuma intenção – como de resto nunca tivemos – de usar o clube com finalidade publicitárias, pois sempre entendemos que tal recurso não se enquadrava em nossos princípios de ética.
Dentro desses pontos de vista, a empresa entendeu que era excessiva a soma que estava dispendendo com o futebol profissional, em detrimento da prática dos esportes amadoristas, que beneficiará um maior número de nossos colaboradores.
Não são apenas os demais associados que estão sentindo o impacto dessa decisão. Nós também somos vulneráveis ao pesar que a todos dominou em face dos acontecimentos. Entretanto, temos que encarar a situação com base na realidade. E esta realidade, infelizmente, não nos leva a outra decisão”.
Porto Alegre, 11 de março de 1959.
A. J. Renner – Diretor Presidente