
No dia 28 de março de 1958, Ênio Andrade se despediu da camiseta do Grêmio Esportivo Renner. Naquela noite de sexta-feira, o público presente foi enorme, centenas de torcedores foram ao Estádio Tiradentes prestigiar o confronto entre o time dos industriários e a equipe de futebol da Sociedade Esportiva Palmeiras.
Antes do confronto, a solenidade: Ênio Andrade entrou no gramado vestindo a camiseta do Renner. Antes que a partida iniciasse, no entanto, os jogadores se reuniram ao seu redor. Cláudio, Pedrinho e Luiz Luz foram os que mais se aproximaram, formando um semi-círculo. Em seguida, os 3 jogadores auxiliaram Ênio a retirar a camiseta do time do 4º distrito. E o que se revelou, por baixo do manto rennista, foi a camiseta do Palmeiras. O público, comovido com a partida de Ênio Andrade, aplaudiu. Ele já não era mais jogador do Renner, era dia de estrear pela equipe paulista.
Apesar de um enfadonho 0 a 0, a partida entrou para a história. Ênio Andrade foi um dos maiores craques que a torcida rennista já viu jogar. A tristeza dos torcedores, pela partida do gênio, era proporcional ao alívio dos adversários. Luiz Engelk, então treinador do Aimoré, com sinceridade, declarou à imprensa: “Finalmente saiu esta peninha da minha frente”.
O repórter, sem entender, perguntou: “Por que, Luiz?”.
“Agora, sim. Aquele ‘cabeçudo’ (Ênio Andrade) era sempre o nosso azar! Agora só falta mais um”.
“Quem?”, questionou o jornalista.
“O Valdir! Eram os dois sempre. Valdir defendendo tudo lá atrás, e Ênio incomodando lá na frente. Qualquer foul perto da área, e a gente ficava com um nó na garganta lá fora. E os jogadores, lá dentro, a se olhar pensando num goal que, quando ia ver, saía mesmo. O ‘cabeçudo’ era de morte.”. E ainda completou: “Agora é outra coisa. Sem o ‘cabeçudo’ a gente se sente mais à vontade”.
O repórter ainda questionou: “O Renner vai ficar uma sopa, Luiz?”.
E Engelk repondeu: “Que nada. O Selviro arma o time direitinho. Ele está no caminho certo. Mas eu fico satisfeito de ver o ‘cabeçudo’ do Ênio lá em São Paulo”.
