
Em outubro de 1948, a equipe do G. E. Renner fez sua primeira excursão para o Nordeste brasileiro. Salvador foi o destino escolhido e que sediou os amistosos do esquadrão gaúcho contra três tradicionais times da cidade: o Ypiranga, o Bahia e o Galícia.
Após vencer o Ypiranga no primeiro confronto por 3 a 1, o time dos industriários entrou em campo para enfrentar o Bahia em um gramado absolutamente encharcado. O empate em 1 a 1, no entanto, saiu de bom tamanho, considerando a tradição da equipe adversária e o estado em que se encontrava o campo de jogo.
Nos dias que antecederam o último confronto, dirigentes e jogadores do time gaúcho tiveram contato com diferentes elementos da cultura baiana. Entre eles, a fascinante história de João Manuel da Silva, o “Dois Lados”, soldado do esquadrão da cavalaria da Polícia Militar da Bahia e o mais fantástico driblador que o futebol baiano já viu jogar. O “Dois Lados” driblava pelos dois lados, com as duas pernas, deixando seus adversários completamente desorientados.
Anos após encerrar sua carreira, no entanto, “Dois Lados” perdeu a visão e o pouco de recursos que conquistou durante sua carreira de jogador. A rua foi a alternativa que restou ao atacante. Foi aí que, por coincidência do destino, o craque foi visto pedindo esmolas próximo ao hotel em que estava hospedado o time do 4º distrito. Mário Azevedo, Presidente rennista, ao ver tal cena, se pôs inconformado e decidiu levar o craque para acompanhar o amistoso contra o Galícia e angariar fundos que pudessem auxiliar o ex-jogador.
A solução encontrada pelo dirigente foi convidar o atacante para entrar em campo junto ao time porto-alegrense. Além disso, foi decidido que o esquadrão do 4º distrito iria entrar no gramado com a bandeira alvi-rubra aberta, de modo a receber donativos para o craque. E o que se viu foi uma chuva de notas e moedas de 1 cruzeiro caindo sobre o pano navegantino. “Dois Lados” não conteve as lágrimas, enquanto a torcida que lotou o Estádio da Graça aplaudiu longamente o gesto assistencialista da equipe gaúcha. No final, o confronto terminou em 2 a 1 para o Galícia, mas ficou lembrado pelo gesto de solidariedade. Golaço do Renner.
